Governo perde ministro do Centrão, vê anistia avançar e se distancia do Congresso

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Falta de votos do PT para a PEC da Blindagem irritou o Centrão e contribuiu para vitória da oposição na Câmara; pressão do União Brasil tirou Celso Sabino da Esplanada

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta um momento de tensão política, marcado pela saída de aliados do Centrão e pelo avanço de projetos que o Executivo tenta frear, como a anistia a condenados pelos atos de 8 de Janeiro. O ministro do Turismo, Celso Sabino anunciou nesta sexta-feira (19) que deixará o cargo na próxima semana. Filiado ao União Brasil, Sabino comunicou sua decisão ao presidente Lula após reunião de cerca de uma hora e meia no Palácio da Alvorada. A saída atende a uma determinação do partido, que deu 24 horas para que filiados deixassem cargos no governo sob risco de expulsão

Após a demissão, Sabino retornará à Câmara dos Deputados, onde era deputado licenciado. A debandada do União Brasil e do PP reduzirá de 11 para 9 o número de ministérios controlados por partidos de centro-direita, debilitando a base do governo no Congresso. O enfraquecimento político do governo coincide com a aprovação, na quarta-feira (17), do requerimento de urgência para a tramitação de um projeto de anistia na Câmara dos Deputados. O texto, de autoria do deputado Marcelo Crivella (Republicanos-RJ), pode beneficiar condenados pelos ataques ao Congresso, ao STF e à Presidência da República em 2023.

A medida agiliza a votação do projeto no plenário, sem passar por comissões, e abre espaço para negociações sobre a redução de penas, possivelmente incluindo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), condenado a mais de 27 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A aprovação da urgência contou com 311 votos a favor, 163 contra e 7 abstenções, incluindo apoio de setores do Centrão e de parlamentares bolsonaristas. Os aliados de Bolsonaro agora brigam por uma anistia “ampla, geral e irrestrita”, que pode reabilitar o antecessor de Lula para a disputa eleitoral do ano que vem.

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), responsável por pautar o projeto, defendeu que a decisão caberia ao plenário, destacando a necessidade de pacificação nacional. Ao mesmo tempo, líderes do PT e do governo Lula buscaram minimizar os efeitos políticos da medida, mas já preveem desgaste diante da mobilização de aliados de Bolsonaro — mesmo aqueles cotados à Presidência de 2026, como o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), que defende uma anistia ampla.

A situação se deteriorou devido à aprovação, na semana passada, da PEC da Blindagem, que aumenta a proteção legal de parlamentares e presidentes de partidos contra investigações e prisões. O governo se posicionou contra a medida, mas liberou o voto da bancada, gerando constrangimento interno. Segundo o presidente Lula, a PEC é “desagradável” e, se fosse deputado, ele teria votado contra.

O Centrão, por sua vez, sentiu-se traído pela não adesão da base governista. O PT entregou 12 dos seus 67 votos ao projeto, mas o número não sensibilizou os parlamentares centristas e ainda desgastou os petistas que escolheram “sim” com a base. Não à toa, a urgência da anistia, votada no dia seguinte, passou com os votos de partidos como União Brasil, PP, PSDMDB e Republicanos.

A combinação da saída de ministros do Centrão, a tramitação da anistia e a aprovação da PEC da Blindagem evidenciam um distanciamento crescente entre o Executivo e o Congresso, em um cenário de tensão política que provavelmente se estenderá até as eleições de 2026.

JP NEWS

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